Tontura, suor frio, tremores, falta de ar, sensação de asfixia, náusea, formigamento, dor no peito, taquicardia, calafrios ou ondas de calor, e a certeza de que vai morrer. Esses são alguns dos sintomas de uma crise de pânico, episódio que, geralmente, acontece de repente, sem muitas explicações, e gera consequências físicas e psicológicas para quem a está enfrentando.
Na manhã desta quarta-feira (19/4), em entrevista ao jornal O Globo, a influenciadora digital Rafa Kalimann, revelou que, além de ter crises como essas há anos, foi diagnosticada com Transtorno do Pânico, condição que, segundo uma pesquisa da Pfizer, atinge cerca seis milhões de pessoas só no Brasil.
“As crises de pânico impactaram toda a minha vida. Coisas que antes para mim eram hobbies, alegria, diversão, como andar em uma montanha-russa, saltar de asa delta, me causam medo e angústia. Mas eu também não quero deixar de ir em uma balada, por exemplo. Tudo hoje me causa muito mais medo e insegurança do que antes. Sempre vou para algum lugar achando que vai ser um motivo para desencadear uma nova crise. Mas não quero deixar de viver e isso foi um compromisso que fiz logo no início comigo mesma”, relatou a influenciadora.
Mas, o que é Transtorno do Pânico? É a mesma coisa que ansiedade? Todo mundo que tem crise de pânico, tem Transtorno do Pânico? Para entender melhor sobre esse assunto, o Aratu On conversou com a psicóloga Cibelle Moura, que já foi logo adiantando: um ataque de pânico não dura muito tempo, mas gera sintomas bastante intensos.
Um deles é a despersonalização, uma sensação peculiar, que faz parecer que você está flutuando, desconectado do próprio corpo. “É a sensação de que a sua cabeça está leve, o corpo fica estranho. Uma sensação de perda de controle, de se estranhar mesmo, não se sentir”. Junto com isso, pode vir também a desrealização, que é uma desconexão com o espaço, até mesmo aqueles que você já conhecia e pareciam inofensivos. “O ambiente, que antes era familiar, começa a parecer estranho, diferente. Aquilo que era familiar, não é mais. Além disso, há um considerável medo de ter um ataque do coração, de morrer”, explicou Cibelle.
As crises, segundo a psicóloga, duram, no máximo, uma hora, mas podem ser tão aterrorizantes que fazem as pessoas temerem ter que passar por elas de novo. E, em muitos casos, é justamente esse medo profundo de ter uma nova crise que chama ela de volta. Quando essa sensação é recorrente e chega a levar a pessoa a evitar atividades comuns, ou até a mudar de rotina, é provável que estejamos falando de Transtorno do Pânico, o medo do próprio medo.
“Há uma preocupação muito grande em enlouquecer, ter um ataque cardíaco… e existe um sofrimento subjetivo significativo. O Transtorno do Pânico pode, ou não, ser acompanhado da agorafobia, que é o medo de lugares amplos. Há casos em que não. Uma coisa que está muito presente no pânico é esse medo, esse desespero mesmo, associado a sintomas físicos e emocionais aterrorizantes. Os relatos são fortes, como se a pessoa não suportasse e tivesse um medo muito intenso de sentir novamente, porque é muito ruim”, disse a psicóloga.
ANSIEDADE
O Transtorno do Pânico, assim como o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), e Transtorno do Estresse Pós-Traumático, estão debaixo do guarda-chuva das síndromes ansiosas. O que diferencia o pânico da ansiedade, por exemplo, é a intensidade e a imprevisibilidade das crises.
“Enquanto a ansiedade tem causas mais lógicas e concretas, por exemplo: ‘Eu vou fazer uma prova muito importante na semana que vem. Então, eu começo a desenvolver um quadro ansioso por causa desse acontecimento’. No Transtorno do Pânico, essa causa já não fica tão clara, tão específica. De modo geral, a gente sabe que isso pode aparecer junto com outras comorbidades que afetam a saúde mental, como a depressão, Transtorno Bipolar, vício em drogas ou álcool, uso abusivo de medicamentos. Mas não há uma causa específica”.
Quem tem o transtorno já deve ter se dado conta de que, quase sempre, é difícil entender a causa dos gatilhos, mas já há estudos que apontam para motivos externos. Um deles é do National Comorbidity Survey (NCS), dos Estados Unidos, que indicou que as mulheres são as mais acometidas pelo Transtorno do Pânico: 71% das pessoas com a síndrome são do sexo feminino.
E, segundo o artigo “Transtornos de Ansiedade em Mulheres: gênero influencia o tratamento?”, dos pesquisadores Gustavo Kinrys e Lisa Wygant, publicado no Brazilian Journal of Psychiatry, fatores genéticos e a influência exercida pelos hormônios sexuais femininos podem explicar essa diferença. Sobre esse fator de risco em mulheres, Cibelle Moura pontuou: “Atinge mais mulheres do que homens devido à sensibilização das estruturas cerebrais pela flutuação hormonal. A incidência de pânico é maior no período fértil da mulher”.
A idade dos pacientes também deve ser levada em conta: por mais que a doença surja em qualquer faixa etária, adolescentes e jovens adultos estão mais vulneráveis a apresentarem os primeiros sintomas. “Essa primeira crise pode aparecer em qualquer idade, mas, costuma se manifestar na adolescência ou no início da idade adulta, sem motivo aparente. E esse episódio pode se repetir de forma aleatória. A pessoa pode sentir várias vezes no mesmo dia, ou pode demorar semanas, meses ou até anos para surgir novamente. Pode ocorrer durante o sono também”, detalhou a psicóloga.
E, é claro, a correria da vida, o uso exagerado das redes sociais e a cobrança excessiva por produtividade, seja no trabalho, seja na vida pessoal, são um dos principais fatores de risco para todos os transtornos ansiosos. “Hoje, estamos mais ansiosos do que nunca devido a nossa dinâmica de vida, tudo tem que ser muito rápido”.
TRATAMENTO
Pânico não é bobagem – é doença e, como qualquer outra, deve ser tratada. Para acalmar as crises, é possível tratar com medicamentos antidepressivos e terapia. A prática de exercícios físicos também é recomendada.
“A pessoa não precisa ter todos os sintomas para estar no quadro. Por isso, é importante um psicodiagnóstico com um profissional capacitado para saber se ela está nesse transtorno. A pessoa precisa ter quatro ou mais sintomas e alcançar o pico de 10 minutos de crise. Então, há todo um critério diagnóstico. A partir da medicação e da terapia há a remissão (diminuição ou sumiço) dos sintomas. É importante essa investigação minuciosa e o paciente aderir ao tratamento”.