Uma “dieta” baseada em manter relações sexuais com duração de 5 horas por dia, quatro vezes na semana, está ganhando adesão de influenciadores digitais em todo o mundo. A promessa, vendida na internet, é a de que ela eliminaria até 8 mil calorias por mês. Aratu On decidiu conversar com a sexóloga Eliana Abreu e a nutricionista Juliana Abreu, que detalharam os perigos para o corpo de substituir a atividades físicas convencionais, como musculação e crossfit, por longas horas de sexo.
Entre aqueles que aderiram à tendência, o principal expoente é a socialite norte-americana Kim Kardashian. Ela revelou conseguir eliminar excesso de massa apenas trancada no quarto com seu marido à época, o rapper Kayne West, durante o auge do casamento, que durou oito anos (2014 a 2021). Para as profissionais, os problemas desta substituição afetam o corpo humano em duas esferas: mental e física.
Para o corpo, a nutricionista Juliana Abreu alerta sobre a perda de uma defesa natural, os músculos. No momento da redução calórica, não é apenas o excesso de massa corporal que vai embora, mas também as fibras da musculatura. Isso acontece devido à falta de direcionamento do ato sexual, onde diversas áreas recebem gastos, sem englobar um grupamento muscular específico, como os membros superiores, inferiores, tórax ou abdômen.
“A massa muscular protege nossos órgãos e ossos. Uma pessoa que não tem a camada muscular desenvolvida, caso sofra uma queda grave, tem tendência muito maior a sofrer consequências proporcionais, do que uma com bom desenvolvimento”. Somado a isso, a perda acelerada de calorias ainda pode prejudicar a absorção de nutrientes, reduzindo imunidade e chegando até a prejudicar o sono.
DIETA
Conceitualmente, a dieta é aquilo que, em tese, você consome de forma alimentar, podendo ser oral ou até a enteral, aplicada diretamente na veia ou estomago do paciente. “Para começo de conversa, chamar o ato sexual de dieta é conceitualmente errado”, observa Juliana.A nutricionista explica que as dietas compartilhadas por blogueiras, através das redes sociais, podem ser muito mais prejudiciais e inacessíveis do que parecem. Um dos motivos se deve ao fato de que aquilo que funciona para uma pessoa, pode não funcionar no corpo de outra, pois cada um é diferente e a forma de gasto calórico exercido por cada organismo também.
“Não é apenas a atividade e quantidade de tempo exposto a ela que definem sua perda calórica. Um atleta que treina todos os dias perderá de um jeito, uma pessoa que sai da inércia, do sedentarismo, vai perder de outro”. Segundo a especialista, para ser analisada uma perda calórica, inúmeros fatores devem ser levados em conta, não apenas o tempo da atividade e sua respectiva intensidade.
Para ser aproveitado de forma correta, o ato sexual deve entrar na conta de perdas calóricas, assim como atividades mais triviais do dia a dia, como ir até o mercado, ou subir uma escada. Segundo a nutricionista, até dormindo o corpo humano pode eliminar calorias, sendo assim, o ato sexual não deveria ser considerado um substituidor da atividade física, mas sim, um agregador da perda.
SEXO COMO OBRIGAÇÃO
A sexóloga Eliana Abreu conta que o uso do sexo como rotina pode fragilizar nossas partes íntimas e o psicológico. No âmbito corporal, expor os órgãos a longos períodos de penetração e atrito pode provocar ferimentos, devido à incapacidade do corpo de manter a lubrificação por tantas horas.
Somado a isso, os vírus causadores de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s), em caso de parceiros rotativos, podem aproveitar esses machucados para entrar mais facilmente no organismo. Conceitualmente, para Eliana, o sexo é “erotismo”, além de prazer, intimidade e troca.
“Já quando ele (o sexo) está voltado para uma dieta, na intenção de perda de peso, deixamos o prazer de lado, e começamos a associá-lo como obrigação”. Os danos mentais começam a partir da cobrança provocada pela obrigação, afirma a psicóloga.
Para durar 5 horas, o homem, muito provavelmente, precisará de medicamentos estimulantes para a ereção. Além disso, ele poderá passar a se cobrar por uma “performance perfeita”, o que pode gerar danos psicológicos como ansiedade e redução da autoestima. “Ele não poderá mostrar negatividades para a parceira, perderá a conexão de prazer. Quando falamos de atividade, fazemos por hora marcada, abandonamos o erotismo.”
Segundo a sexóloga, ao todo, desde os primeiros selinhos até o levantar da cama, o tempo médio total de uma relação é de 40 minutos, ou seja, aderir à dieta do sexo seria o mesmo que multiplicar o tempo em cerca de sete vezes.
Se tempo é dinheiro, gastar 20 horas da semana deitado na cama seria, além de tudo, o cúmulo do ‘desperdício’ na rotina de uma pessoa. É sobre isso que reflete a sexóloga. Para ela, conseguir encaixar, dentro das 24 horas do dia, uma pausa de 5 horas nas atividades, seria substituir o tempo destinado ao sono, ou até ao lazer com amigos e familiares, por exemplo.
“Não dá para manter. Estamos falando de diminuição de sono, o que gera aumento de cortisol, podendo disparar a ansiedade. Um exemplo das consequências pode ser a diminuição da produção no trabalho”. E você, o que pensa desta nova “modalidade”?